A declaração acima, parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental II (quinta a oitava séries) do Ministério da Educação (MEC), mostra que as escolas têm o dever de debater orientação sexual com seus alunos. Mas, de acordo com a pesquisa Qual a Diversidade Sexual dos Livros Didáticos Brasileiros?, coordenada pela professora Débora Diniz, da Universidade de Brasília (UnB), com a participação de docentes e pesquisadores da USP, não é isso que ocorre. Quando se trata de diversidade sexual, os professorres ainda não estão preparados para abrir o debate e muitas vezes são omissos em relação a preconceitos dentro da sala de aula.
"Dissertações já concluídas e teses em andamento que oriento mostram que a escola pouco questiona a violência física e verbal sofrida por estudantes homossexuais. Como disse o professor Ramires Neto [participante da pesquisa], permite-se que a experiência educacional de tais estudantes se transforme num verdadeiro 'inferno', relegando-os a um não-lugar", explica Cláudia Vianna, professora da Faculdade de Educação (FE) da USP e uma das docentes que fazem parte da pesquisa sobre livros didáticos. Ela explica que a omissão do assunto é tão preconceituosa quanto a repressão da diversidade. Assim, o aluno não consegue se identificar com uma figura carismática que não seja heterossexual. Mesmo quando são mencionadas outras orientações, isso é feito, na maioria das vezes, como anedota para chamar a atenção dos alunos, e não como forma de abertura para a discussão.
Paternalismo
A pesquisa examinou sob diversos ângulos a qualidade discursiva sobre diversidade sexual em 61 dos 98 livros didáticos distribuídos pelo Programa Nacional do Livro Didático e pelo Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (todos em escolas públicas) em 2007 e 2008. De acordo com a professora, a preocupação do estudo não era apenas a de encontrar afirmações homofóbicas, mas sim analisar o conteúdo, demarcando e criticando as estratégias discursivas que naturalizam a heterossexualidade e também os estereótipos de gênero.
"A análise abrangeu o exame das políticas públicas de educação, dos dicionários e dos livros didáticos utilizados nas escolas públicas, das concepções de família e de conjugalidade neles contidas e da reiterada ausência de conteúdos e imagens diretamente relacionados às idéias de diversidade sexual", comenta Cláudia, que ficou resposável, junto com o pesquisador Luiz Ramires Neto, pela análise da diversidade sexual e das relações de gênero presentes nos modelos de família expressos nos livros didáticos. "Nessa parte da análise, constatamos que a inexistência de alusões explícitas aos homossexuais e/ou à homossexualidade nos modelos de família é um silenciamento sobre a diversidade sexual", conclui.
Paternalismo
A pesquisa examinou sob diversos ângulos a qualidade discursiva sobre diversidade sexual em 61 dos 98 livros didáticos distribuídos pelo Programa Nacional do Livro Didático e pelo Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (todos em escolas públicas) em 2007 e 2008. De acordo com a professora, a preocupação do estudo não era apenas a de encontrar afirmações homofóbicas, mas sim analisar o conteúdo, demarcando e criticando as estratégias discursivas que naturalizam a heterossexualidade e também os estereótipos de gênero.
"A análise abrangeu o exame das políticas públicas de educação, dos dicionários e dos livros didáticos utilizados nas escolas públicas, das concepções de família e de conjugalidade neles contidas e da reiterada ausência de conteúdos e imagens diretamente relacionados às idéias de diversidade sexual", comenta Cláudia, que ficou resposável, junto com o pesquisador Luiz Ramires Neto, pela análise da diversidade sexual e das relações de gênero presentes nos modelos de família expressos nos livros didáticos. "Nessa parte da análise, constatamos que a inexistência de alusões explícitas aos homossexuais e/ou à homossexualidade nos modelos de família é um silenciamento sobre a diversidade sexual", conclui.
Para Cláudia, apesar da aparição de rearranjos no sistema familiar dentro dos livros didáticos, a constante alusão a um sistema "heteropaternalista" - em que o modelo de família é o casal heterossexual e a dominação masculina - apresenta a homofobia implícita aos estudantes. Apresentando essa como a formação normal e naturalizada da família, tudo o que foge disso acaba se transformando em errado. A diversidade é abafada pelo modelo comum, que está dentro da mente das crianças e adolescentes desde cedo. As famílias ajudam para a confirmação dos estereótipos, já que também apresentam aos seus filhos como única alternativa um modelo que seja igual ao vivido por eles.
O preconceito começa na escola
Um estudo fomentado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e pelo Governo Federal diagnosticou como estudantes, pais, mães e membros do corpo pedagógico tratam de temas relacionados à sexualidade juvenil, a partir de questionários distribuídos em 13 capitais brasileiras e no Distrito Federal. Nele, revela-se que muitos jovens já foram alvo de violências, mostrando a conexão com o preconceito de gênero. Entre as formas de violência destacadas, encontram-se assédio, estupro e discriminação de gênero ou por orientação sexual. Em alguns locais, um entre dez jovens já foi vítima deste tipo de agressão.
"As ações que fomentam o trabalho com a questão da diversidade sexual e das discriminações de gênero também dependem da leitura que professores, alunos e funcionários possuem sobre as relações de gênero, discussão ainda escassa na formação docente", diz Cláudia, que acredita haver uma urgência em se trabalhar as representações culturais que circulam na escola. Assim, assume-se a responsabilidade dela, como instituição de ensino, pela produção e reprodução de referências e conhecimentos que reiteram discursos que acabam por justificar desigualdades, por meio do preconceito ou do silêncio. "Essas posturas acabam por não desconstruir práticas preconceituosas, que revelam o imaginário social, enquanto comportamento que se manifesta nas unidades de ensino".
¹Extraído de Parâmetros Curriculares Nacionais (Orientação Sexual), guia do Ministério da Educação do disponível no site da instituição.
Fotos: Arquivo
O preconceito começa na escola
Um estudo fomentado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e pelo Governo Federal diagnosticou como estudantes, pais, mães e membros do corpo pedagógico tratam de temas relacionados à sexualidade juvenil, a partir de questionários distribuídos em 13 capitais brasileiras e no Distrito Federal. Nele, revela-se que muitos jovens já foram alvo de violências, mostrando a conexão com o preconceito de gênero. Entre as formas de violência destacadas, encontram-se assédio, estupro e discriminação de gênero ou por orientação sexual. Em alguns locais, um entre dez jovens já foi vítima deste tipo de agressão.
"As ações que fomentam o trabalho com a questão da diversidade sexual e das discriminações de gênero também dependem da leitura que professores, alunos e funcionários possuem sobre as relações de gênero, discussão ainda escassa na formação docente", diz Cláudia, que acredita haver uma urgência em se trabalhar as representações culturais que circulam na escola. Assim, assume-se a responsabilidade dela, como instituição de ensino, pela produção e reprodução de referências e conhecimentos que reiteram discursos que acabam por justificar desigualdades, por meio do preconceito ou do silêncio. "Essas posturas acabam por não desconstruir práticas preconceituosas, que revelam o imaginário social, enquanto comportamento que se manifesta nas unidades de ensino".
¹Extraído de Parâmetros Curriculares Nacionais (Orientação Sexual), guia do Ministério da Educação do disponível no site da instituição.
Fotos: Arquivo
http://www.portal.fae.ufmg.br/seer/index.php/ensaio/article/viewFile/124/174
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